Racismo

Moradia da USP amanhece com pichação racista

Frase 'Volta P/ África' foi registrada em parede do alojamento estudantil; universidade diz que trabalha para identificar autoria

Frase 'Volta P/ África' foi registrada em parede do alojamento estudantil; universidade diz que trabalha para identificar autoria
Foto: Reprodução - Twitter

O Crusp (Conjunto Residencial da Universidade de São Paulo), a moradia para estudantes da USP, amanheceu nesta quinta-feira (1º) com pichação de cunho racista.

Segundo relatado nas redes sociais por Marcos Morcego, 22, aluno do 4º semestre do curso de ciências sociais da universidade, a frase “Volta P/ África” apareceu em uma das paredes do do bloco G do alojamento. Na terça (29), pichações com suásticas, símbolo nazista, foram encontradas no DCE (Diretório Central dos Estudantes) e na Faculdade de Direito.

“Essa pichação apareceu hoje de manhã, até ontem à noite não tinha. Nessa semana a gente teve símbolo nazista pichado no nosso DCE, que é a representação máxima dos estudantes, talvez tenha alguma relação”, afirmou à Folha.

A universidade confirma o ocorrido e diz que registrou boletim de ocorrência e que vai “empreender esforços para identificar os agressores e aplicar as sanções cabíveis”.

Marcos diz que a maioria dos estudantes que mora no alojamento é de pessoas negras e pobres. “O Crusp passa por isso há um tempo, mas a gente notou um padrão. Teve na UFABC (Universidade Federal do ABC) um cara com uma blusa nazista, teve na Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) pichação nazista no banheiro. A gente vê uma sequência desses atos e o Crusp é um lugar que tem a maioria de gente preta e pobre, que ficas o dia inteiro na faculdade, querendo ou não, se torna um alvo”, disse.

O aluno diz esperar que a universidade dê alguma resposta sobre o caso.

“Eu não sei se a universidade vai fazer muita coisa porque geralmente não dão respostas, mas, a gente espera pelo menos que eles liberem a gravação das câmeras que têm lá para ajudar na identificação e expulsão eventual da pessoa que pichou”, diz. Segundo a USP, não há câmeras nos corredores dos blocos de moradia.

O estudante afirma temer que ocorra uma escalada dessa violência baseada no preconceito se não houver uma resposta adequada. “Esse é o nosso medo porque, historicamente, na USP já teve muitos casos de violência verbal, física, então esse é um medo real que a gente está tendo”, relata.

Com relação ao símbolo nazista, a universidade repetiu nota divulgada nesta quarta (30). “A USP não admite qualquer forma de apologia ao nazismo e ao preconceito racial em suas dependências. O centro de vivência é um espaço administrado pelos alunos, onde são realizadas atividades promovidas pelo DCE, que, como toda a USP, é vítima dessa agressão inominável”, declarou.