Política

Enquanto uns vacinam escondido, maioria quer que chegue logo a sua vez

– Senhor, o cartão de vacinação, por favor? – Está aqui… – Senhor, preciso que…

O ministros da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos participa de coletiva de imprensa no Palácio do Planalto, sobre as ações de enfrentamento ao covid-19 no país / Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil
O ministros da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos participa de coletiva de imprensa no Palácio do Planalto, sobre as ações de enfrentamento ao covid-19 no país / Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

– Senhor, o cartão de vacinação, por favor?

– Está aqui…

– Senhor, preciso que você tire o dedo para eu checar seus dados.

– Ah, sim, claro…

– O senhor poderia tirar o dedo de cima do seu nome, por favor?

– Precisa mesmo?

– Sim, é necessário.

– Ai, meu Deus…

O diálogo acima é fictício (ou não?), mas poderia ter sido travado entre o ministro da Casa Civil, general Luiz Eduardo Ramos, e a pessoa que lhe aplicou a vacina. Veja você o patético de toda situação: enquanto o que mais vemos nas redes sociais é gente compartilhando fotos e vídeos do momento sublime da própria vacinação ou dos familiares que ama, alguns precisam se esconder para levar a injeção sem melindrar o chefe. Patético.

Em reunião realizada ontem pelo Conselho Nacional de Saúde Complementar, sem saber que a conversa tinha transmissão ao vivo pelo Facebook, general Ramos assumiu que é um vacinalover, como a maioria dos brasileiros somos. Mas, como trabalha para um governo que tem no negacionismo sua principal bandeira, preferiu ficar no mocó para se vacinar.

“Tomei escondido, né, porque era a orientação […]”, disse. Beleza, general, nem precisa completar o pensamento: a gente já entendeu que você não quer bater de frente com seu chefe.

Mas o ministro não ficou só por aí. Ele disse que está trabalhando para que Jair Bolsonaro deixe de ser cabeça dura e se vacine. “Estou envolvido pessoalmente tentando convencer o nosso presidente, independente de todos os posicionamentos, que nós não podemos perder o presidente para um vírus desse. A vida dele, no momento, corre risco”. Colocação sóbria, ministro. Se conseguir convencê-lo também a não mais promover aglomerações, o Brasil inteiro ficaria agradecido.

General Ramos disse ainda: “Se a ciência e a medicina estão dizendo que é a vacina, né, Guedes, quem sou eu para me contrapor?”. Mais uma vez, fala perfeita. E novamente pedimos: teria como explicar isso para o presidente, por favor?

@pablokossa/Mais Goiás | Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil