Economia

É preciso compreender a saída da Ford de maneira mais ampla

A Ford anunciou ontem que está deixando o Brasil. Dona de menos de 7% do…

Cerca de 322 mil trabalhadores de Goiás terão de se qualificar para atender demanda industrial até 2023. É isto que aponta o Mapa do Trabalho do Senai

A Ford anunciou ontem que está deixando o Brasil. Dona de menos de 7% do mercado automobilístico nacional, a montadora vai fechar as plantas restantes no país e transferir essa produção para o Uruguai e Argentina. No geral, vi que muitas análises sobre a decisão da Ford ignoram algo que não pode ser esquecido: a indústria automobilística como um todo é de um anacronismo gigante perante as demandas do mundo contemporâneo.

É claro que é lamentável a perda dos postos dos 5 mil trabalhadores da companhia. Uma política pública de recolocação para esses funcionários deve ser implementada já. Temos Governo (temos?) para isso. Garantida a salvaguarda desses profissionais, o debate caminha para algo mais denso: é um absurdo o que o Brasil gasta com uma indústria que entrega muito pouco como contrapartida.

As montadoras estão passando por um momento disruptivo mundo afora. Os veículos movidos a combustível fóssil deixaram de ser o sonho de consumo como eram no século XX para se transformarem em vilões do século XXI. O esforço criativo desse segmento está no aperfeiçoamento dos modelos elétricos. Onde estão as montadoras instaladas no Brasil nesse corrida tecnológica? Milhas e milhas atrás. E nossos governantes não compreenderam isso.

Os incentivos fiscais para a indústria automobilística são enormes. Do Governo Federal, dos estados e das prefeituras. A renúncia fiscal que esse segmento recebe não volta em empregos. Só para dar uma ideia, 5 mil funcionários é o que o Shopping Flamboyant e todas suas lojas empregavam antes da pandemia. O mesmo que três plantas industriais da Ford. Compreendeu como o setor emprega pouco?

Além disso, temos que pensar no custo social de uma indústria anacrônica. O que gastamos indiretamente com a poluição gerada pelos carros? Com as consequências do aquecimento global? E com as obras viárias que demandam manutenção incessante? Com os acidentes que pesam no sistema público de saúde? Percebeu como a conta é complexa?

Jogar a culpa da saída da Ford na gestão Bolsonaro não é correto. Esses equívocos de incentivos às montadoras vêm de muito tempo atrás. Mas, como a decisão se deu sob seu governo, a exploração política acontece. É do jogo. Contudo, a falta de um novo norte que dê conta das demandas contemporâneas é sim responsabilidade de Bolsonaro. E não há absolutamente nada apontando nesse sentido. Discorda? Prove com fonte de credibilidade aí nos comentários.