(Re)Começar

Você provavelmente já reparou que todo carro, quando está parado e vai partir, antes de…

Você provavelmente já reparou que todo carro, quando está parado e vai partir, antes de avançar, retrocede um pouco. Ré do impulso. Óbvio que tecnicamente isso é explicável, mas não vamos nos apegar à técnica agora, sim, ao simbolismo.

Todos os dias, alguma situação ou pessoa, nos incomoda. São incontáveis motivos para reclamarmos, e nós reclamamos. Óh, céus, como reclamamos! É como se a mágoa ou raiva disfarçada de deboche fosse tão gostosa, mesmo que inútil, que a ela nos rendêssemos sem pudor. Estacionamos na comodidade, do que mesmo ruim, representa “conforto”. Porque, sinceramente, mudar não é lá tão legal a princípio. Requer esforço, enfrentamento do medo, pisar no desconhecido. É mais fácil reclamarmos do marido, da esposa, que fazermos alguma coisa pra mudar a situação. Mais fácil contar os minutos para o fim do dia, da semana, do mês, do que nos perguntarmos o que podemos fazer para mudarmos a rotina odiada. É também bem mais fácil reclamarmos da sucessão de casos de indiferença de quem dedicamos afeto, do que mudarmos o comportamento padrão que atrai sempre as mesmas situações.

Todos os dias o sol nasce no azul do céu, se põe, dá lugar à lua, que logo ao dormir, lhe abre passagem novamente. Seria repetitivo se não fosse único cada estreia.

Somos letrinhas espalhadas num livro em branco. Roteirinhos por escrever em uma história de bilhões de anos. Somos o brilho que ficou dos que já foram, o conteúdo que se transforma em comida – ou pérola – da ostra esquecida.

Não nos cabemos, e então, nos transbordamos em clichês mal resolvidos, coragem abortada, e medo da luz que somos projetados a ser.

Parar. Refletir. Retroceder. Avançar.

A solução cuja busca tira o sono está na atitude de mudança que a reclamação diária come.

A mudança mora na mudança.

(Re) comece.