Comportamento

Limpe a retina

A vida passa como um sopro. Certezas são folhas voando ao seu bel prazer. Pra…

A vida passa como um sopro. Certezas são folhas voando ao seu bel prazer. Pra lá. Pra cá. E quando enfim encontram o chão, se desfazem em pedaços pra entendermos que tudo que há se desmorona no mesmo fim.

Quanto mais o tempo nos afasta do período da infância, mais nos agarramos às convicções que nos mantém de pé. Porque o ego sente necessidade de se auto-afirmar, e pra isso, nos conduz ao suicídio dentro das pessoas, e ao assassinato das pessoas em nós.

Somos grandes, mas, nos fazemos pequenos. Somos mar, mas nos fazemos copos. Carregamos toda a euforia do mundo por simplesmente estarmos vivos, mas nos rendemos à apatia de adultecer, como se fosse pecado se encantar com cada amanhecer, como se fosse amadorismo vibrar com cada celulazinha cada conquista, cada vitória boba do dia a dia.

Nos apegamos a tábuas de salvação deixadas pelos que vieram antes, que acreditando ajudar, nos ensinaram a afogarmos o que há de melhor e mais autêntico em nós.

Pode comemorar, suspirar enquanto come seu arroz, feijão, bife e salada – prato favorito.

Pode ligar pra dizer eu te amo. Somos livres sim pra sentirmos o que são e o que somos.

Pode dizer que mesmo que haja só três semanas e cinco transas, você gosta e sente falta.

Pode admitir pra mãe falta do colo.

São tantas fórmulas pra se caber, tantas tribos pra parecer, que vi um oceano de identidades perdidas na última esquina.

Uma música que gosto muito diz que: “É como se o tempo que eu levei pra saber tudo que sei, provasse eu não saber nada.” E é isso. Somos leigos. Amadores profissionais.

A vida ainda é um encantador desconhecido.

Limpe a retina.